03/06/2011

A SUPERVALORIZAÇÃO DAS APARÊNCIAS

04/05/2011

QUEM SÃO OS HERÓIS DE VERDADE ?
 Nesta postagem encontrarão trechos da entrevista de Roberto Shinyashiki à revista ISTO É



ISTO É - Quem são os heróis de verdade?
Roberto Shinyashiki -- Nossa sociedade ensina que, para ser uma pessoa
de sucesso, você precisa ser diretor de uma multinacional, ter  carro
importado, viajar de primeira classe.
O mundo define que poucas pessoas deram certo.
Isso é uma loucura. Para cada diretor de empresa, há milhares de
funcionários que não chegaram a ser gerentes.
E essas pessoas são tratadas como uma multidão de fracassados.
Quando olha para a própria vida, a maioria se convence de que não
valeu à pena, porque não conseguiu ter o carro, nem a casa
maravilhosa.
Para mim, é importante que o filho da moça que trabalha na minha casa,
possa se orgulhar da mãe.
O mundo precisa de pessoas mais simples e transparentes.
Heróis de verdade são aqueles que trabalham para realizar seus
projetos de vida, e não para impressionar os outros.
São pessoas que sabem pedir desculpas e admitiram que erraram.
... É pena que a maior parte das pessoas esconda suas raízes.
O resultado é um mundo vítima da depressão, doença que acomete hoje
10% da população americana.
Em países como o Japão, a Suécia e a Noruega, há mais suicídio do que
homicídio.
Por que tanta gente se mata?
Parte da culpa está na depressão das aparências, que acomete a mulher,
que embora não ame mais o marido, mantém o casamento, ou o homem que
passa  décadas em um emprego, que não o faz se sentir realizado, mas o
faz se sentir seguro.


ISTO É -- Qual o resultado disso?
Shinyashiki -- Paranóia e depressão cada vez mais precoce.
O pai quer preparar o filho para o futuro e mete o menino em aulas de
inglês, informática e mandarim. Aos nove ou dez anos a depressão
aparece.
A única coisa que prepara uma criança para o futuro, é ela poder ser criança.
Com a desculpa de prepará-los para o futuro, os malucos dos pais estão
roubando a infância dos filhos.. Essas crianças  serão adultos
inseguros e terão discursos hipócritas.
Aliás, a hipocrisia já predomina no mundo corporativo.

ISTO É - Temos um modelo de gestão  que premia pessoas mal preparadas?
Shinyashiki -Ele cria pessoas arrogantes, que não têm a humildade  de
se preparar, que não têm capacidade de ler um livro até o fim e  não
se preocupam com o conhecimento.
Muitas equipes precisam de motivação, mas o maior problema no Brasil é
competência.
Cuidado com os burros motivados.
Há muita gente motivada fazendo besteira.
Não adianta você assumir uma função, para a qual não está preparado.
Fui cirurgião e me orgulho de nunca um paciente ter morrido na minha mão.
Mas tenho a humildade de reconhecer que isso nunca aconteceu graças a
meus chefes, que foram sábios em não me dar um caso, para o qual eu
não estava preparado.
Hoje, o garoto sai da faculdade achando que sabe fazer uma neurocirurgia.
O Brasil se tornou incompetente e não acordou para isso.

... 
Antes, o ter conseguia substituir o ser.

O cara mal-educado  dava uma gorjeta alta para conquistar o respeito do garçom.
Hoje, como as pessoas não conseguem nem ser, nem ter, o objetivo de
vida se tornou parecer.

As pessoas parecem que sabem, parece que fazem, parece que acreditam.
E poucos são  humildes para confessar que não sabem.
STO É -Por que nos deixamos levar por essa necessidade de sermos
perfeitos em tudo e de valorizar a aparência?
Shinyashiki -Isso vem do vazio que sentimos.
A gente continua  valorizando os heróis.    Quem vai salvar o Brasil?
O Lula. Quem vai  salvar o time? O técnico.
Quem vai salvar meu casamento? O terapeuta.
... -Tenho minhas angústias e inseguranças. Mas aceitá-las faz

minha vida fluir facilmente.
Há várias coisas que eu queria e não consegui.
Jogar na Seleção Brasileira, tocar nos Beatles (risos). Meu filho mais
velho nasceu com uma doença cerebral e hoje tem 25 anos.
Com uma criança especial, eu aprendi que,  ou eu a amo do jeito que

ela é, ou vou massacrá-la o resto da vida para ser o filho que eu
gostaria que  fosse.
Quando olho para trás, vejo que 60% das coisas que fiz deram certo. O
resto  foram apostas e erros.
Dia desses apostei na edição de um livro, que não deu certo.
Um amigão me perguntou: 'Quem decidiu publicar esse livro?'
Eu respondi que tinha sido eu. O erro foi meu. Não preciso mentir.

ISTO É - Como as pessoas podem se livrar dessa tirania da aparência?

Shinyashiki - O primeiro passo é pensar nas coisas que fazem as
pessoas cederem a essa tirania e tentar evitá-las.
São três fraquezas:
A primeira é precisar de aplauso, a segunda é precisar se sentir amada
e a terceira é buscar segurança.
Os Beatles foram  recusados por gravadoras e nem por isso desistiram.
Hoje, o erro das escolas de música é definir o estilo do aluno.
Elas ensinam a tocar como o Steve Vai, o B. B. King ou o Keith Richards.
Os MBAs têm o mesmo problema: ensinam os alunos a serem covers do Bill Gates.
O que as escolas deveriam fazer é ajudar o aluno a desenvolver suas
próprias potencialidades.

ISTO É - Muitas pessoas têm buscado sonhos que não são seus?
Shinyashiki - A sociedade quer definir o que é certo. São quatro
loucuras da sociedade...
A primeira é instituir que todos têm de ter sucesso, como se eles não
tivessem significados individuais.
A segunda loucura é:
Você tem de estar feliz todos os dias.
A terceira é:
Você tem que comprar tudo o que puder. O resultado é esse consumismo absurdo.
Por fim, a quarta loucura:
Você tem de fazer as coisas do jeito certo.  Jeito certo não existe.
Não há um caminho único para se fazer as coisas. As metas são
interessantes para o sucesso, mas não para a felicidade.
Felicidade  não é uma meta, mas um estado de espírito.
Tem gente que diz que não será feliz, enquanto não casar, enquanto
outros se dizem infelizes justamente por causa do casamento.
Você pode ser feliz tomando sorvete, ficando em casa com a família ou
com amigos verdadeiros, levando os filhos para brincar ou  indo à
praia ou ao cinema..



Quando era recém-formado em São Paulo , trabalhei em um hospital de
pacientes terminais.
Todos os dias morriam nove ou dez pacientes.
Eu sempre procurei conversar com eles na hora da morte.
A maior parte pega o médico pela camisa e diz:
'Doutor, não me deixe morrer. Eu me sacrifiquei à vida inteira, agora
eu quero aproveitá-la e ser feliz'.
Eu sentia uma dor enorme por não poder fazer nada. Ali eu aprendi que
a felicidade é feita de coisas pequenas.
Ninguém na hora da morte diz se arrepender por não ter aplicado o
dinheiro em imóveis ou ações, mas sim de ter esperado  muito tempo ou
perdido várias oportunidades para aproveitar a vida.

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