Por Luiza Elizabeth
Noite de sexta-feira. Eu assistia o Jornal
Nacional. Prá variar só desgraça. Notícia ruim, uma atrás da outra. Já nem
choro mais.Não ignoro, só lamento, mas não choro.Só fico pensando...
Pensando... Aonde vamos parar?
De repente, quebrando o silêncio da casa
vazia, o telefone toca. Imaginei que seria algum amigo para me salvar do tédio
e das reflexões inevitáveis desse meu cérebro insistentemente pensante. Engano
meu. Do outro lado da linha, a voz de uma criança de três anos, reclama, sem
cumprimentos e sem preâmbulos: “_ Vó, a Cocada morreu!!!
Minha “ficha
custou a cair”!Com a cabeça ainda voltada para as mortes narradas no
noticiário, custei um pouco a entender a notícia fatídica que acabara de
receber da neta caçula...
“_Cocada? Que cocada, minha filha? Quem
morreu? De que? Onde? Quando?”
“_ Co-ca-da!!!
Vó!!! A minha passarinha amarelinha. Aquela que canta muito. Pois é....
Morreu... No ninho, com a cabeça prá fora da gaiola!!! Mas o colega dela,
aquele... Que entrou na casa dela, o azulzinho, tá lá... Vivinho!!! Você escreveu sobre a” morragem” da Nina, escreve sobre a “ morragem” da Cocada vó ...
As crianças queriam outro bichinho de estimação.
A cachorrinha Nina morreu! Desistiram de gostar da tartaruga que dei para elas,
pois a idiota resolveu crescer e virar antropófaga. Não pode ver um dedo de
criança e quer morder. Noutro dia, encostei a traíra na netinha mais nova (de brincadeirinha...) e ela arrancou
um pedaço do cotovelo da garotinha. Não agüenta a bocada de um gato e vive lá,
revoltada, dentro de uma bacia de plástico, comendo e cagando, sem emitir um
som...
Por isso ganharam uma canarinha do avô! Nos
primeiros dias, a bichinha não cantava. Até que a babá das crianças começou a
conversar com ela uma tal...Língua dos pássaros
(tem doido pra tudo..). Só sei que depois disso o bichinho destrambelhou a
cantar bonito e foi batizada de Cocada pela minha neta mais velha,
que só pensa em comida.
Agora recebo essa notícia da Morragem da Cocada! A Cocada morreu!
Elas acham que ela estava grávida, andava barriguda... Ajudaram-na a fazer um ninho.
Colocaram o material para tal dentro da gaiola, e ela se encarregou do resto.
Vivia desde então pulando de lá prá cá no
ninho. Cada vez mais barriguda. Mas não conseguia botar o ovo. Fiquei
imaginando por que. E descobri: Tinha
medo que nós descobríssemos quem era o pai, e resolveu morrer entupida com seu
próprio ovo!Vou explicar:
Há uns meses atrás, a gaiola da Cocada foi arrombada
(LITERALMENTE ARROMBADA) por um periquito sem lar. Ele afastou as grades com o bico,
o suficiente para lhe dar passagem, e sem a permissão ou convite de ninguém, se
alojou nos aposentos da canarinha amarela, consagrada cantora das redondezas.
Acredito ser esse periquito, um desses
passarinhos, que acostumados a viver em gaiola, fugiu e se perdeu. E como muita
gente(mulheres principalmente), acostumada à prisão, o tal periquito acabou
achando outra gaiola para viver, por acomodação. Trocou a liberdade por casa e
comida!!!
Periquito
mau caráter que é, deve ter arrombado a gaiola e a passarinha!!!Como a
bobinha não reclamou e eles não brigavam, foram deixados lá, pela família,
dividindo o mesmo lar.
Até
que me chegou a triste notícia: A Cocada morreu!!!Momento de solidariedade
entre avó e netas!!! Conversamos muito. Eu e as meninas. Chegamos a uma
conclusão! Cocada se apaixonou pelo periquito sem pedigree, engravidou dele,
mas não teve coragem de botar o ovo. ENTUPIU!!!
Preferiu morrer, encolhidinha no ninho, com
a cabeça pra fora da gaiola (prá não respirar o mesmo ar do Maldito), do que
correr o risco de ver sair de seu ovinho um canarinho amarelo, lindo, cantante,
com cara de periquito!!!