Por Luiza Elizabeth
E depois que ela se foi, junto
com ela foi também a inspiração e a vontade de cantar, que teimou em não voltar
com vergonha de ver tanta tristeza...
Nunca mais ele pegou o violão e as horas e horas que passava
dedilhando aquelas cordas, soltando a voz doce em letras e melodias, se
transformaram em horas vazias na frente de uma televisão, ouvindo todos os
noticiários, todos eles, sem deixar escapar nenhum, pra poder não pensar nela,
naquelas noites cheias da ausência dela, noites fadadas a serem assim pro resto
da vida.
Ele relembra o tempo em que sentavam um de frente pro outro,
ingênuos, felizes.Ele cantava, feliz que nem passarinho, na gaiola acostumado,
e o amor deles, era a gaiola que prendia aquele coração apaixonado.
- “Uma casinha qualquer no colo da serra...” Era só com isso
que ele sonhava... Sonho pequeno, mas
que fazia dele um homem enorme, capaz de tudo por aquela mulher!
Hoje ele lembra aquela cena de fim de tarde: Um de frente
pro outro, ele olhava pra ela e era impossível não começar a tocar o pinho e
derramar sobre ela a poesia que algum poeta atrevido se apressou a escrever
antes dele.Mas deve ter se inspirado nela!
- “Negue seu amor e seu carinho, diga que você já me
esqueceu...” Negar, ele nunca negou, a ninguém que perguntasse. Aliás, ninguém
perguntava mesmo, não precisava. Todo mundo sabia o motivo daquele silêncio de
depois! As cordas da viola e a voz do homem emudeceram!
Ele nunca mais cantou,
nem pra ninar os filhos que um dia ele sonhou que teria com ela, mas que vieram
de outra... Esqueceu até como era o som da sua voz; Seus dedos endureceram
junto com o coração. E o violão... Ah! O violão! Seu cúmplice, seu parceiro, o
único com quem ele dividiu aquele amor verdadeiro, ele não quis dividir a dor
da saudade e hoje não sabe nem onde está.
Talvez a mulher que acabou sendo a companheira e a mãe de
seus filhos, sabendo da cantoria de outrora, enciumada quebrou a viola pra ter
certeza que ele atrás da outra não iria mais pra fazer nenhuma serenata.
Não carecia! Depois que ela partiu, se fez um deserto em sua
garganta que não houve mais cachaça que aliviasse, não houve mais inspiração
que lhe soltasse a voz!
Depois que ela se foi, a poesia se transformou em descaso
pelas misérias do mundo. Aquele grande amor virou poeira perdida nas estradas
que os dois juntos não trilharam, e o seu canto, seu canto se resume em assovio
pra chamar passarinho que vem cantar na sua janela. Cantando bonito, para ajudá-lo a fingir que se esqueceu dela...
Nenhum comentário:
Postar um comentário