05/11/2011

CASAMENTO SOB MEDIDA


05/11/11



Em busca de um parceiro com quem tenha mais afinidade, os brasileiros não hesitam em começar vida nova e o número de recasamentos no País dobra em uma década
Michel Alecrim e Rodrigo Cardoso REVISTAISTOÉ

Por décadas, o “seja infinito enquanto dure”, de Vinicius de Moraes, foi lançado em mesas de bar, cartas açucaradas e investidas românticas. Agora, o famoso trecho do “Soneto da Felicidade” é usado por especialistas para explicar como os brasileiros estão encarando o casamento. Ele não precisa mais ser “até que a morte nos separe”, mas “bom enquanto durou”. Até porque as pessoas hoje em dia só se mantêm casadas por opção – não há mais o peso da imposição social ou econômica sobre a instituição matrimonial. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na última década, o número de casamentos subiu 28% e o de separações cresceu 43%. Mas o total de recasamentos (gente que casa uma, duas, três vezes) dobrou nesse período, de 65 mil em 2000 para 136 mil em 2009, último dado disponível. “O sonho do grande amor, do companheiro que faça a pessoa feliz permanece”, afirma a psicóloga Maria Tereza Maldonado, autora do livro “Casamento, Término e Reconstrução”. “A diferença é que agora as pessoas sabem que ele não necessariamente vai durar para sempre.”

A expectativa em torno desse “bom” também mudou. Até 

pouco tempo atrás, os enamorados só se contentavam com 

a perfeição. Pares que se completassem, com os mesmos 

gostos, sonhos e ideais, numa simbiose idílica que 

costumava se romper aos primeiros tremores da implacável 

rotina. Atualmente, o exercício é retirar o manto das 

expectativas que cercam as relações amorosas e encarar o 

parceiro como uma pessoa real, com qualidades e defeitos. 

“O antigo amor romântico está dando lugar a um sentimento 

mais realista”, diz Junia de Vilhena, psicóloga e professora 

da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. 

Isso não garante a durabilidade das relações, mas melhora 

significativamente sua qualidade durante o tempo que elas 

duram.


...
Na opinião da antropóloga Mirian Goldenberg, professora da 
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autora de 
vários livros sobre o casamento, existe uma mudança de 
mentalidade em curso. “Os casamentos não são mais tão 
esquematizados como os dos nossos pais e avós. Agora os 
relacionamentos são mais complexos”, diz a antropóloga. 
Autor de “O Relacionamento Amoroso”, Ailton Amélio da 
Silva afirma que, mesmo sem as pressões sociais de 
outrora, existem forças psicológicas, como carinho, solidão, 
amor e apaixonamento, que podem levar um casal a se unir 
duradouramente ou não. “Mais do que valer a pena se casar, 
eu digo que não existe outra opção, porque, do contrário, se 
paga um preço psicológico muito alto.” Segundo Silva, há 
estudos que mostram que pessoas que dizem encontrar tudo 
no casamento, como amizade e sexo, são mais satisfeitas 
do que aquelas que buscam isso com mais de um. “Ter sexo 
com uma pessoa, amizade com outra e parceria com outros 
não gera fusão. Quando você vive isso tudo com uma 
pessoa só, há mais profundidade.” Não esquecendo de 
aposentar termos como metade da laranja, tampa da panela 
ou alma gêmea. Nem se frustrando, caso a união termine. 
“Sabe por que a maioria das pessoas se divorcia?”, pergunta 
a terapeuta Lidia Aratangy. “Para casar de novo.”
Mas o que leva as pessoas a abrir mão da sua confortável 

independência e dividir armários, expor as mais recônditas 

intimidades e partilhar grande parte da sua vida com 

alguém? A resposta é singela: o bom e velho amor. Segundo 

levantamento da revista “Time” nos Estados Unidos, 93% 

dos americanos casados e 84% dos solteiros apontaram o 

amor como o principal motivo para levar alguém ao 

casamento. “Nem mesmo o ‘engravidou tem de casar’ se 

aplica mais hoje”, diz a terapeuta de casais Lidia Aratangy, 

autora de “O anel que tu me destes – o casamento no divã”. 
“Não vejo outra forma de uma pessoa subir ao altar que não 

movida pelo amor.” A frase é de um especialista em 

casamentos. Não na teoria, mas na prática. Do alto da 

experiência de três uniões desfeitas – está na quarta, e bem-

sucedida, há 11 anos – o gestor de negócios paulista Carlos 

Alberto Gonçalves, 57 anos, foi colecionando lições, muito 

parecidas com as colhidas entre os mais tarimbados 

especialistas em relacionamento afetivo ouvidos por ISTOÉ, 

que dividimos com os leitores: 

– Diminua as expectativas. “A perfeição no relacionamento 

não existe”, afirma Gonçalves.

– Por mais apaixonado que esteja, cultive a autoestima: 

“Além de fazer alguém feliz, a gente tem de casar para ser 

feliz. E eu me anulei várias vezes pensando apenas na 

felicidade de quem estava ao meu lado.”

– Case com alguém com quem tenha afinidades: “Essa 

história de que os opostos se atraem é balela.”


– Valores são inegociáveis: “Seu parceiro não deve ser uma 

cópia sua, mas tem de ter valores parecidos.”






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