05/11/11
Em busca de um parceiro com quem tenha mais afinidade, os brasileiros não hesitam em começar vida nova e o número de recasamentos no País dobra em uma década
Michel Alecrim e Rodrigo Cardoso REVISTAISTOÉ
A
expectativa em torno desse “bom” também mudou. Até
pouco tempo atrás, os
enamorados só se contentavam com
a perfeição. Pares que se completassem, com os
mesmos
gostos, sonhos e ideais, numa simbiose idílica que
costumava se romper
aos primeiros tremores da implacável
rotina. Atualmente, o exercício é retirar
o manto das
expectativas que cercam as relações amorosas e encarar o
parceiro
como uma pessoa real, com qualidades e defeitos.
“O antigo amor romântico está
dando lugar a um sentimento
mais realista”, diz Junia de Vilhena, psicóloga e
professora
da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro.
Isso
não garante a durabilidade das relações, mas melhora
significativamente sua
qualidade durante o tempo que elas
duram.
...
Na opinião da
antropóloga Mirian Goldenberg, professora da
Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) e autora de
vários livros sobre o casamento, existe uma mudança
de
mentalidade em curso. “Os casamentos não são mais tão
esquematizados como os
dos nossos pais e avós. Agora os
relacionamentos são mais complexos”, diz a antropóloga.
Autor de “O
Relacionamento Amoroso”, Ailton Amélio da
Silva afirma que, mesmo sem as
pressões sociais de
outrora, existem forças psicológicas, como carinho,
solidão,
amor e apaixonamento, que podem levar um casal a se unir
duradouramente ou não. “Mais do que valer a pena se casar,
eu digo que não
existe outra opção, porque, do contrário, se
paga um preço psicológico muito
alto.” Segundo Silva, há
estudos que mostram que pessoas que dizem encontrar
tudo
no casamento, como amizade e sexo, são mais satisfeitas
do que aquelas que
buscam isso com mais de um. “Ter sexo
com uma pessoa, amizade com outra e
parceria com outros
não gera fusão. Quando você vive isso tudo com uma
pessoa
só, há mais profundidade.” Não esquecendo de
aposentar termos como metade da
laranja, tampa da panela
ou alma gêmea. Nem se frustrando, caso a união
termine.
“Sabe por que a maioria das pessoas se divorcia?”, pergunta
a
terapeuta Lidia Aratangy. “Para casar de novo.”
Mas
o que leva as pessoas a abrir mão da sua confortável
independência e dividir
armários, expor as mais recônditas
intimidades e partilhar grande parte da sua
vida com
alguém? A resposta é singela: o bom e velho amor. Segundo
levantamento
da revista “Time” nos Estados Unidos, 93%
dos americanos casados e 84% dos
solteiros apontaram o
amor como o principal motivo para levar alguém ao
casamento. “Nem mesmo o ‘engravidou tem de casar’ se
aplica mais hoje”, diz a
terapeuta de casais Lidia Aratangy,
autora de “O anel que tu me destes – o
casamento no divã”.
“Não
vejo outra forma de uma pessoa subir ao altar que não
movida pelo amor.” A
frase é de um especialista em
experiência de três uniões desfeitas – está na quarta, e bem-
sucedida,
há 11 anos – o gestor de negócios paulista Carlos
Alberto Gonçalves, 57 anos,
foi colecionando lições, muito
parecidas com as colhidas entre os mais
tarimbados
especialistas em relacionamento afetivo ouvidos por ISTOÉ,
que
dividimos com os leitores:
–
Diminua as expectativas. “A perfeição no relacionamento
não existe”, afirma
Gonçalves.
–
Por mais apaixonado que esteja, cultive a autoestima:
“Além de fazer alguém
feliz, a gente tem de casar para ser
feliz. E eu me anulei várias vezes
pensando apenas na
felicidade de quem estava ao meu lado.”
–
Case com alguém com quem tenha afinidades: “Essa
história de que os opostos se
atraem é balela.”
–
Valores são inegociáveis: “Seu parceiro não deve ser uma
cópia sua, mas tem de
ter valores parecidos.”
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