Não sei de dor mais doída que a danada da saudade...
Não tem tempo que cure, não tem cachaça que alivie.
Todas as outras dores são abrandadas com o passar do tempo , com o sem querer
da perda de neurônios diários,com os sofrimentos que se sucedem num vai e vem
que transforma nossa vida numa abençoada roda viva de emoções , acontecimentos
e preocupações.
Mas chega uma hora em que a gente tem que parar!
Cada um tem o seu momento: a tragada
silenciosa e egoísta do cigarro na varanda, longe de todo mundo, aquele olhar
perdido no “horizonte da parede da cozinha” enquanto se saboreia o cafezinho da
tarde, o instante de trégua entre um toque de telefone e outro, enfim, há
sempre um momento em que não dá pra fugir da dor ardida, quente e malvada da
saudade.
Curto essa danada debaixo do
chuveiro (e sei que não sou a única) , que ele( o chuveiro ) é discreto e
amigo, nos abraça, nos envolve,e disfarça nossas lágrimas se porventura vierem...
E depois ainda dá pra cantar uma canção antiga e fingir que está feliz.
Mentira: É saudade!!!
Quando perdemos alguém, que sabemos que não
vamos ver mais (e nessas horas a teoria reencarnacionista não me consola), a
dor da perda em si é acalmada pelo tempo. Se há algum tipo de revolta, contra
Deus ou contra os homens, essa também pode ser aliviada com uma série de
truques da vida, que aparecem pra nós sem que nos apercebamos e que desvia
nossa atenção da dor e seca nossas feridas. Mas a saudade não é uma ferida a
ser cicatrizada...
A saudade é o cheiro, o jeito, o carinho, o riso,
é tudo entranhado nos nossos olhos, na pele, nos movimentos das pessoas que
vemos na rua e que nos faz recordar os momentos em que sequer pensávamos
naquela pessoa e que nem queríamos lembrar.
Não adianta não falar nela, não
olhar as fotos, não ouvir as músicas que eram suas preferidas. Quando a marvada
da saudade vem, ninguém segura!
De tudo o que já senti na vida esse é um
sentimento com o qual não sei lidar. Quando me virem triste por aí, olhar de
cachorro louco, cara de peão que perdeu a marmita, sem saber onde parar o carro,
entrando e saindo pela mesma porta, pode ter certeza de uma coisa: é Banzo!
Acho até que isso mata! Se não mata
engorda! Deve originar uma daquelas síndromes que os psiquiatras e terapeutas
do momento criaram para justificar a nossa compulsão para fazer as coisas em
excesso e que nos faz sentir que somos pessoas normais.
Talvez por isso eu precise estar
sempre em constante movimento! Querendo notícias do mundo de lá... Querendo
aliviar a saudade daqueles que ficaram longe ou que se foram pra sempre, revendo
lugares, sentindo aromas ou ouvindo sons que se perderam...
Nos meus espaços interiores eu me
espalho em letras e músicas para viver tudo o que meu coração quer e me encolho
cheia de tristeza e às vezes cheia de alegria, olhando esse meu coração safado,
carregado de recordações desses meus “alguns anos” bem vividos, povoado de
gente boa que me faz encher os olhos de lágrimas por não estar ao meu lado,
curtindo tudo o que estou curtindo, por opção minha ou da vida...
Mas daqui a pouco passa e em
poucos dias vai doer de novo! Saudade é assim! Não sara! Não deixa marca! Mas
dói feito gente grande...
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