04/08/2011

ORGÃOS ARTIFICIAIS PROLONGAM A VIDA


 


 (PARTES DA MATÉRIA)Revista ISTO É

(...)
O Massachusetts Institute of Technology,
 o prestigiado MIT, dos Estados Unidos,
 informaram ao mundo a criação de um fígado humano artificial, fabricado completamente em laboratório.
 Os detalhes da façanha estão descritos na edição online
 do Proceedings of the National Academy of Sciences, uma das mais respeitadas publicações científicas mundiais.
(...)
O órgão foi produzido a partir de uma mistura de hepatócitos humanos (células que compõem o fígado)
com fibroblastos (células de suporte) extraídas de ratos.
Os exemplares foram implantados em cobaias usadas em testes de medicamentos. Normalmente, antes de um remédio ser aprovado, ele passa por várias etapas para a análise de sua segurança e eficácia.
 As primeiras são realizadas em animais – comumente, em ratos. Mas, por mais semelhantes que sejam as respostas das cobaias e dos humanos às medicações, elas não são exatamente as mesmas. Por isso a ideia dos pesquisadores americanos de produzir um fígado humano e implantá-lo nos camundongos. Dessa maneira, as reações observadas serão ainda mais próximas das que serão manifestadas por um ser humano
A apresentação da experiência americana ocorreu apenas dez dias depois da divulgação de outro feito de igual impacto. Na sexta-feira 8/7, pesquisadores do Karolinska University Hospital, na Suécia, anunciaram a realização de um implante de uma traqueia totalmente fabricada em laboratório. O beneficiado foi um homem de 36 anos, pai de dois filhos. Ele sofria de um câncer na traqueia e não respondia mais aos tratamentos. “Estava condenado à morte”, disse o médico Paolo Macchiarini, coor­denador do procedimento. A traqueia doente foi extirpada, e a nova, sadia, colocada em seu lugar. O rapaz não tem mais a doença e o que se espera, a partir de agora, é que ele tenha uma vida absolutamente normal. “Esta é uma demonstração de que o que até poucos anos atrás era considerado um sonho está se tornando realidade, transformando a vida dos pacientes”, disse o médico Alan Russel, diretor do McGowan Institute, em Pittsburgh, nos Estados Unidos, a respeito da experiência sueca.
Publicado em março deste ano, um estudo sobre o método atesta que as operações, realizadas entre 2004 e 2007, foram bem-sucedidas.
 Durante o período de acompanhamento, constatou-se que o canal reconstruído manteve o diâmetro e a capacidade urinária desejados. “Isso comprova que as uretras criadas em laboratório são um bom substituto ao tratamento atual”, diz Anthony Atala, líder da pesquisa e diretor do instituto. “Nos enxertos sem essa tecnologia há problemas em mais de 50% dos casos: ocorre o estreitamento do vaso, o que causa infecções, dificuldade para urinar, dor e sangramento.”
Além da bexiga e da uretra, outros 30 tecidos e órgãos construídos em laboratório estão em estudo nos laboratórios da Wake Forest. Entre eles, uma das boas promessas vem de uma pesquisa em estágio avançado que promete solucionar problemas de disfunção erétil. A técnica, já testada em animais, consiste em reconstruir o tecido erétil do pênis – essa estrutura, conhecida como corpo cavernoso, torna-se rija ao receber um volume maior de sangue. Por isso, o grande desafio é garantir a boa vascularização do tecido reconstruído. Em camundongos, o procedimento deu certo. Durante os testes, os animais foram capazes de engravidar fêmeas.
(...)
Obter o molde adequado é parte fundamental para a engenharia de órgãos. Além da opção de se recorrer ao biomaterial inteligente – construído de polímeros e reabsorvido pelo corpo após um tempo –, outra solução é usar como suporte o órgão “descelularizado” de um doador. Esse processo consiste em “limpar” o conteúdo celular da estrutura, deixando apenas uma espécie de esqueleto que será implantado no paciente. O corpo, ao receber essa estrutura vazia – mas capaz de atrair para ela as células específicas –, repovoa naturalmente o “molde”
“Mas um dos maiores desafios é fabricar estruturas sólidas, como o rim, o coração e o pâncreas”, disse à ISTOÉ Karen Richardson, porta-voz do Instituto de Medicina Regenerativa da Universidade Wake Forest. “Esses órgãos possuem alta densidade celular e é preciso boa vascularização para manter o suprimento de oxigênio necessário ao seu funcionamento.”
(...)
Nesse aspecto, porém, há experiências vitoriosas. Os resultados da última, aliás, foram apresentados há um mês, durante um encontro da Associação Americana do Coração. Pesquisadores da empresa Cytograft Tissue Engineering, dos Estados Unidos, informaram o sucesso de um implante de vasos sanguíneos criados com células de pele doadas. Eles foram colocados em três doentes renais para facilitar a entrada de cateteres durante a diálise. Oito meses depois da implantação, nenhum apresentara sinais de rejeição ou de qualquer outro problema. “Vamos agora iniciar um estudo clínico para verificar a eficácia em pacientes que tiveram pernas amputadas e sofrem com problemas de vascularização”, disse à ISTOÉ Todd McAllister, chefe-executivo da empresa
(...)
Aprimorar e ampliar as possibilidades de criar órgãos 
representam um reforço importante contra um problema 
atual: com o aumento da expectativa de vida, a tendência é 
de que cada vez mais pessoas precisem de órgãos substitutos 
– o envelhecimento contribui para a falência das 
capacidades do organismo. O que se espera é que, num 
futuro não tão distante, mais e mais implantes – a exemplo 
dos feitos com traqueia, bexiga, uretra e vasos sanguíneos 
artificiais – garantam maiores esperanças de vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário