A família Rossini vivia em
extrema pobreza. A luta de Yussef para alimentar os quatro filhos e a esposa
Samia parecia inócua. Aquele país, que um dia fora cartão postal para turistas
e que para uns poucos ainda significava luxo e riqueza, para a família Rossini
só representava pobreza e desilusão. Mas ele não perdia a esperança, morreria
lá, onde nasceram os seus ancestrais.
Foi a tristeza do pai e a fome
dos irmãos que estimulou Mamede Rossini, seu primogênito, a tentar a vida em
outro país. Um lugar sem guerras,sem desertos áridos e acenando com a
possibilidade de prosperidade.
Foi com o coração partido que o
jovem Rossini abandonou a Terra natal, a família e, principalmente o pai, que
tanto amava. Veio para o Brasil. Não sem antes fazer ao amado pai uma
promessa:A de que assim que se tornasse um homem rico, mandaria dinheiro
suficiente para que o mesmo pudesse comprar uma casa descente, confortável e
pudesse viver dignamente .
Aqui chegando, Mamede, como todo
imigrante, entregou-se ao trabalho duro. Ele tinha um objetivo, uma meta a ser alcançada.Não havia abandonado sua
família, seus costumes, tudo enfim,para nada.
Homens da Terra de Mamede
casavam-se jovens. Casamentos prometidos desde a infância, mas, ele mesmo não
tinha nenhuma jovem deixada para trás, a quem tivesse que se unir. Mas aqui
chegando, constituiu família ao apaixonar-se perdidamente por uma brasileira, mulher
de muitos encantos, que logo se tornou a mãe de seus vários filhos.
A vida da nova família Rossini no
Brasil prosperava. Graças a muito trabalho, o jovem Rossini conseguia criar os
filhos, dar-lhes conforto e uma boa educação. Seu grande sonho era ver os
filhos formados, doutores, com suas próprias famílias, e mesmo distante,
mantendo as tradições da Terra distante, da qual, por vezes, ainda sentia uma
saudade nostálgica e doída.
Matava a saudade através das
cartas. Cartas essas que esperava ansioso a cada mês e que abria vorazmente,
ávido por notícias do pai, da família e dos amigos deixados para trás, no
passado.
Eram essas cartas que o
acalentavam e faziam-no reafirmar dentro de si a promessa feita ao velho pai: O
dinheiro que mandaria para que ele comprasse a casa...
Mas as coisas não eram fáceis. Ao
final de cada ano, os trocados que lhe sobravam após pagar pela educação dos
filhos e as necessidades da família, não eram suficientes para enviar o
prometido para o pai.
A família de Mamede Rossini no
Brasil vivia uma vida modesta, mas honrada. Mas ele não conseguiu ficar rico! Quando
viu todos os filhos formados, Mamede pensou:
“Agora posso realizar o sonho de meu pai de
ter um lar decente!”
Faz parte da cultura de alguns
países, comunicarem a morte de algum parente muito próximo, através de cartas
contendo uma tarja negra no envelope, em sinal de luto.
Um dia, ansioso como sempre,
Mamede, verificou a correspondência, esperando notícias do pai, que ele sabia
através de cartas anteriores, encontrava-se muito enfermo.
A carta continha uma tarja negra
e Rossini não teve coragem de abri-la. Seu coração apertado e sua intuição lhe
diziam que a notícia que mais temia estava contida naquele envelope. Deixou-a
sobre um móvel na sala, fechada, muda!
E ela lá está, no mesmo lugar,
até hoje, após vários anos, despertando a curiosidade da família, agora
numerosa, em torno daquela carta lacrada, nunca aberta. Certo dia, não contendo
a curiosidade habitual de toda criança, um de seus netos perguntou: -“Porque
nunca abriu essa carta vovô?”
Com o olhar triste e distante, o
velho Rossini responde ao neto, com certa amargura:
“- Porque não consegui cumprir a promessa que
fiz a meu pai...”,
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