28/12/2011

NÃO DEIXE PARA 2013


Adiar tarefas e protelar sonhos pode ser um problema psíquico.

 Saiba como identificá-lo e evitá-lo

Débora Rubin

Atire a primeira pedra quem nunca deixou para amanhã o
 que podia ser feito hoje. Ou para depois do Carnaval, para 
o segundo semestre, para o ano seguinte. Adiar as tarefas 
por minutos, as obrigações por semanas, as pendências 
pessoais por meses e a dieta e o exercício físico por anos é 
uma característica com a qual metade da humanidade se 
identifica. O problema é quando isso, o ato de procrastinar, 
se torna um ciclo vicioso e passa a trazer danos para o dia a 
dia. “Quem o faz de forma crônica tem seus afetos, 
trabalho e até a saúde prejudicados”, alerta o especialista 
em gestão de tempo Christian Barbosa, que está escrevendo 
um livro sobre o tema (que foi adiado por um bom tempo 
por pura falta de disposição). Saber por que se procrastina 
e como lidar com a enrolação para não chegar ao nível 
crítico é uma boa tarefa para tempos de listinhas de 
promessas de fim de ano. Principalmente no país do “deixa 
para depois”: um levantamento feito pela Sociedade 
Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental 
apontou que 33% dos funcionários brasileiros gastam duas 
horas da jornada sem fazer nada de efetivo. E 52% 
admitiram deixar atividades necessárias para a última hora.

E, afinal, por que é que a gente é assim? O roteirista e 
consultor criativo André Czarnobai, 32 anos, não sabe ao 
certo. Mas sabe que sempre foi enrolado. Muito antes da 
internet, um dos principais fatores de distração ao lado da 
televisão, ele já dava um jeito de fazer tudo em cima da 
hora. Quanto tinha 10 anos, sempre parava qualquer tarefa 
para ir consultar um verbete na enciclopédia. Interrompia a 
leitura no meio e ia fazer um desenho. Voltava para o dever 
de casa e, pouco depois, já estava jogando video­game, 
assistindo à tevê ou brincando. Mais de 20 anos depois, 
pouca coisa mudou. E, embora afirme que não vê nada de 
útil em postergar seus trabalhos, diz que, como autônomo, 
mesmo deixando tudo para em cima do prazo, conseguiu um 
equilíbrio de vida graças à procrastinação. “Se enrolasse 
menos, faria muito mais coisas, mas também seria bem 
mais estressado”, acredita. Sua maneira preferida de adiar 
o trabalho, diz ele, é ler e responder e-mails “de forma 
nababesca”.

A psicóloga Camila Martiny, do Laboratório de Respiração e 
Pânico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 
aponta três típicos perfis de enrolador: o otimista, o 
impulsivo e o perfeccionista. O primeiro sempre acha que 
vai dar tempo de fazer tudo. E tende a se desesperar no 
final. O segundo só quer o prazer imediato e, por isso, deixa 
toda atividade chata para depois. E o último é aquele que 
nunca acha que o momento é o ideal para fazer a tarefa 
porque quer fazê-la com calma e da melhor maneira 
possível. Silvia Lira Ribeiro, 21 anos, se reconhece no 
último tipo. Ao contrário de Czarnobai, ela não deixa nada 
do trabalho para depois. Em compensação, as tarefas 
domésticas e os deveres da faculdade ficam sempre por 
último. “Gosto da casa muito limpa, quero fazer tudo com 
muito cuidado, aí acabo não fazendo nada”, lamenta-se a 
estudante de psicologia e atendente de telemarketing. É 
tanta roupa para passar, louça para lavar e banheiro para 
limpar que ela fica perdida e nem sabe por onde começar. E 
a casa vai ficando suja. A mesma coisa acontece com a 
faculdade. “Quero aprender tudo, ler cada texto e livro, 
mas me distraio fácil demais e nunca leio nada.”

Segundo Barbosa, falta de energia e, pasmem, medo do 
sucesso podem ser dois motivos ocultos no ato de adiar 
tarefas. Comer mal e levar uma vida sedentária tiram o 
ânimo para se empenhar nas atividades cotidianas. “Quem 
pratica mais esportes faz mais coisas e sempre no prazo”, 
diz o especialista, que entrevistou mais de seis mil pessoas 
para escrever seu livro. Já o medo do sucesso tem a ver 
com projetos grandiosos, com os sonhos. Barbosa cita como 
exemplo uma pessoa que quer montar uma empresa ou 
escrever um livro, mas que morre de preguiça só de pensar 
na trabalheira que vai dar, caso a ideia vingue.


Para uma minoria, postergar tarefas pode estar ocultando algo mais grave. Segundo Camila, quem nunca consegue cumprir prazos e está sempre atrasado em tudo pode ter alguma doença psíquica séria como depressão e transtorno de ansiedade. “Nesse caso, a ajuda de um profissional da saúde se faz urgente”, diz ela. Para os demais casos, incluindo Silvia e Czarnobai, pequenas atitudes já ajudam a organizar a rotina (leia quadro). A começar por levar mais a sério a listinha de promessas para 2012. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário