Adiar tarefas e protelar sonhos pode ser um problema psíquico.
Saiba como identificá-lo e evitá-lo
Débora Rubin
Atire a primeira pedra quem nunca
deixou para amanhã o
que podia ser feito hoje. Ou para depois do Carnaval, para
o segundo semestre, para o ano seguinte. Adiar as tarefas
por minutos, as
obrigações por semanas, as pendências
pessoais por meses e a dieta e o
exercício físico por anos é
uma característica com a qual metade da humanidade
se
identifica. O problema é quando isso, o ato de procrastinar,
se torna um
ciclo vicioso e passa a trazer danos para o dia a
dia. “Quem o faz de forma
crônica tem seus afetos,
trabalho e até a saúde prejudicados”, alerta o
especialista
em gestão de tempo Christian Barbosa, que está escrevendo
um livro
sobre o tema (que foi adiado por um bom tempo
por pura falta de disposição).
Saber por que se procrastina
e como lidar com a enrolação para não chegar ao
nível
crítico é uma boa tarefa para tempos de listinhas de
promessas de fim de
ano. Principalmente no país do “deixa
para depois”: um levantamento feito pela
Sociedade
Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental
apontou que 33%
dos funcionários brasileiros gastam duas
horas da jornada sem fazer nada de
efetivo. E 52%
admitiram deixar atividades necessárias para a última hora.
E, afinal, por que é que a gente é assim? O roteirista e
consultor criativo André
Czarnobai, 32 anos, não sabe ao
certo. Mas sabe que sempre foi enrolado. Muito
antes da
internet, um dos principais fatores de distração ao lado da
televisão,
ele já dava um jeito de fazer tudo em cima da
hora. Quanto tinha 10 anos,
sempre parava qualquer tarefa
para ir consultar um verbete na enciclopédia.
Interrompia a
leitura no meio e ia fazer um desenho. Voltava para o dever
de
casa e, pouco depois, já estava jogando videogame,
assistindo à tevê ou
brincando. Mais de 20 anos depois,
pouca coisa mudou. E, embora afirme que não
vê nada de
útil em postergar seus trabalhos, diz que, como autônomo,
mesmo
deixando tudo para em cima do prazo, conseguiu um
equilíbrio de vida graças à
procrastinação. “Se enrolasse
menos, faria muito mais coisas, mas também seria
bem
mais estressado”, acredita. Sua maneira preferida de adiar
o trabalho, diz
ele, é ler e responder e-mails “de forma
nababesca”.
A psicóloga Camila Martiny, do
Laboratório de Respiração e
Pânico da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ),
aponta três típicos perfis de enrolador: o otimista, o
impulsivo e o
perfeccionista. O primeiro sempre acha que
vai dar tempo de fazer tudo. E tende
a se desesperar no
final. O segundo só quer o prazer imediato e, por isso,
deixa
toda atividade chata para depois. E o último é aquele que
nunca acha que
o momento é o ideal para fazer a tarefa
porque quer fazê-la com calma e da
melhor maneira
possível. Silvia Lira Ribeiro, 21 anos, se reconhece no
último
tipo. Ao contrário de Czarnobai, ela não deixa nada
do trabalho para depois. Em
compensação, as tarefas
domésticas e os deveres da faculdade ficam sempre por
último. “Gosto da casa muito limpa, quero fazer tudo com
muito cuidado, aí
acabo não fazendo nada”, lamenta-se a
estudante de psicologia e atendente de
telemarketing. É
tanta roupa para passar, louça para lavar e banheiro para
limpar que ela fica perdida e nem sabe por onde começar. E
a casa vai ficando
suja. A mesma coisa acontece com a
faculdade. “Quero aprender tudo, ler cada
texto e livro,
mas me distraio fácil demais e nunca leio nada.”
Segundo Barbosa, falta de energia e, pasmem, medo do
Segundo Barbosa, falta de energia e, pasmem, medo do
sucesso podem ser dois motivos
ocultos no ato de adiar
tarefas. Comer mal e levar uma vida sedentária tiram o
ânimo para se empenhar nas atividades cotidianas. “Quem
pratica mais esportes
faz mais coisas e sempre no prazo”,
diz o especialista, que entrevistou mais de
seis mil pessoas
para escrever seu livro. Já o medo do sucesso tem a ver
com
projetos grandiosos, com os sonhos. Barbosa cita como
exemplo uma pessoa que
quer montar uma empresa ou
escrever um livro, mas que morre de preguiça só de
pensar
na trabalheira que vai dar, caso a ideia vingue.
Para uma minoria, postergar tarefas pode estar ocultando algo mais grave. Segundo Camila, quem nunca consegue cumprir prazos e está sempre atrasado em tudo pode ter alguma doença psíquica séria como depressão e transtorno de ansiedade. “Nesse caso, a ajuda de um profissional da saúde se faz urgente”, diz ela. Para os demais casos, incluindo Silvia e Czarnobai, pequenas atitudes já ajudam a organizar a rotina (leia quadro). A começar por levar mais a sério a listinha de promessas para 2012.
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